A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

Charles Chaplin

domingo, 9 de maio de 2010

A estrada e a mulher...

Ele abriu os olhos. Tinha uma luz forte branca. Alguém bateu nele. Ele começou a chorar. Foi carregado. Uma pessoa segurou-o com firmeza. Ele olhou ainda tonto. Um colar de pérolas cintilantes o encarava. Dois olhos verdes. Ele gostava dela. Um homem sério se aproximou. Tinha um ar austero, mas sua presença o confortava. Rapidamente ele foi levado para longe daquelas pessoas tão simpáticas e ficou em um lugar quente e claustrofóbico.

O tempo passou e cada vez mais ele ficava parecido com aqueles gigantes que o acompanhavam a todo momento. Ele acabou aprendendo a falar sua língua, a andar e correr como eles. Ele se tornou um deles. Cresceu. E eles fielmente continuaram cuidando dele. Ele nunca entendeu. Eles nunca cobravam nada.

Um dia o homem não dormiu em casa. No outro também. Na verdade, o homem nunca voltou. O homem não se despediu. Ele ficou muito triste. A mulher não deixava de chorar um único dia. A mulher explicou que os gigantes não eram eternos. Ele ficou pensativo. Ele queria saber o que iria acontecer se seguisse naquela estrada que todos trilhavam. Ele não obteve resposta.

Um dia ele se tornou um gigante. Sabia as leis de Newton. Sabia o que era π. Sabia quais eram os isótopos radioativos do hidrogênio. Sabia a história de toda América. Sabia todos os tipos de vegetação do país. Sabia falar inglês, espanhol e francês. Mas nada disso ajudou-o a compreender a vida.

Ele fez uma prova. Todos os novos gigantes fizeram. Ele não passou. Chegou em casa e foi contar a mulher. A mulher surpreendentemente abraçou-o. A mulher não gritou. Não fez uma única objeção. A mulher se postou ao seu lado e prometeu ajuda-lo. Ele não compreendia aquela mulher. Por que ela o amava?

Ele fez a prova novamente. Ele passou. Ele mostrou o resultado a mulher. A mulher ficou tão radiante, que ele acabou lembrando de uma luz forte e um sorriso de pérolas cintilantes. Ele começou uma nova jornada, muito mais fácil que a primeira.

Ele se envolveu com uns caras estranhos. Começou a beber e a fumar. A mulher não dizia nada como sempre. Foi encontrado na sarjeta jogado. Foi levado para casa. A mulher cuidou dele. Ele se arrependeu. E honrou a mulher.

Ele arrumou um emprego. Uma namorada. Uma esposa. Um filho. Dois filhos. A mulher ficava cada vez mais feliz. E ele também. Ele tinha uma família. E começou a ver menos a mulher. A mulher ficou doente. Muito doente. Ele ficou triste. E confuso. Ainda não sabia como viver para sempre e nem por que a mulher o amava tanto.

Ele chegou no meio da estrada. A mulher no final. A mulher terminou a caminhada. Ele precisava andar muito. Ele não tinha forças. A mulher levara com ela uma parte dele. Ele chorou incontáveis dias. Ele desistiu de viver. Ele esqueceu seu trabalho. Ele esqueceu sua família.

O dia das mães chegou. Ele pensou em tudo que não havia dito aquela mulher. Ele percebeu que não podia agradecer aquela mulher. Ele resolveu honrar aquela mulher novamente e andar com mais afinco pela curta estrada.

Seus filhos cresceram, e seguiram o mesmo caminho da estrada. A estrada estava ficando mais longa e cansativa. Um dia ele viu sua esposa e filhos dentro de uma caixa de madeira. Ele se lembrou da mulher. Ele sabia que eles haviam caído da estrada. Ele não entendia. Eles eram tão jovens. Ele não entendia por que a vida era tão injusta.

Ele chegou perto do fim da estrada. Ele olhou para trás. Ele lembrou. Ele lembrou do homem, da mulher, da esposa, dos filhos, ele lembrou de cada pedra da estrada. Ele estava pronto para o fim da estrada. Ele queria descobrir, o que viria a seguir.

Antes de terminar a estrada. Ele chorou. Ele lembrou como a mulher fora corajosa. A mulher enfrentara a estrada sozinha. A mulher não deixou ele cair da estrada. A mulher nunca cobrou nada por isso. E antes de dar seu último suspiro, ele descobriu as respostas.

A vida, era uma estrada sem volta. Curta ou longa, dependendo de como você anda. A segunda pergunta, foi muito simples. Não havia explicação, para tanto amor e dedicação. Ele percebeu, que só podia sorrir e chorar ao mesmo tempo. Ele só podia agradecer, por aquela mulher ter tido a coragem de aceitar o desafio de ser sua mãe.

Ele terminou a estrada com sorriso e uma lágrima na mesma face enrugada.

4 comentários:

  1. é, eu perdi um tempo escrevendo...que bom...=D

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  2. Simplismente maravilhoso... Tá de parabéns, mais uma vez ^^

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  3. Quer dizer que além de nerd, vereador, você também é escritor, Dom Yago? haha Gostei daqui, ein. Parabéns!

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